sábado, 21 de novembro de 2015

Ars Antiqua - Ars Nova e o Renascimento

        Em sua origem, a música era considerada uma atividade muscular, uma vez que o ser humano utilizava de sua voz para sobreviver. A partir do desenvolvimento humano e da sociedade como um todo, a música foi sendo transferida por imitação e mais tarde pelo ensino.
        Nas civilizações antigas, a música constitui sabedoria. Filósofos da Antiguidade diziam que há na música uma representação da harmonia universal.

Com o passar dos séculos, a música perde o lugar privilegiado na cultura dos povos e sua função social acaba ficando de lado; há uma depreciação do auditivo, dando enfase à visão (desenhos, quadros, gestos).

                                ANTIGUIDADE



      As primeiras civilizações musicais provavelmente foram as da Mesopotâmia, Egito e China. A imagem ao lado refere-se a um harpista babilônico, aproximadamente 2000 a. C. A música neste período desempenhava um forte papel em ritos solenes, não havia notação musical, os instrumentos eram feitos a partir de ossos e tripas de animais. A função social da música era extremamente importante, símbolo de poder e respeito, estando presente não só nos rituais religiosos e festivos, mas também no militar.
Na Grécia antiga, a música é fortemente ligada à instituição dos grandes jogos artísticos em Delfos, Esparta e mais tarde em Atenas, eram milhares de pessoas que se dispunham em arquibancadas para assistir a torneios poéticos-musicais.
Platão e Aristóteles, filósofos, atribuem à música um valor educativo, onde a música é capaz de exaltar na alma virtudes cidadãs, como a solidariedade e o amor à pátria.



                                IDADE MÉDIA



             Embora a música estivesse sempre presente em festividades e outras celebrações, ela acabava sendo mais expressa em rituais religiosos e com o passar dos anos, isso foi ganhando mais força com o nascimento do cristianismo.

Roma sofreu influencia da Grécia em vários sentidos. Os romanos utilizavam a música na guerra para sinalizar ações dos soldados e tropas e também para cantar hinos quando haviam vitórias conquistadas; a música possuía papel fundamental na religião.


     Na Idade Média a igreja tinha forte influência sobre os costumes e cultura do povo, a música tocada era basicamente religiosa, portanto um predomínio do canto gregoriano e do cantochão. Ao lado, imagem de uma partitura utilizada pelos monges. Paralelo a igreja, havia outra música acontecendo, a profana, cantada pelos trovadores e menestréis.

A arte praticada entre os séculos X a XIII, era chamada de Ars Antiqua. Neste mesmo período Guido D'arezzo, ligado à igreja desenvolve uma nova notação musical. A música executada nos reinos da Suíça, França e Itália, nos séculos X e XI, começa com uma polifonia simples, ou seja, nota contra nota.
No século XII, na catedral de Notre Dame, surge o estilo Organum Duplo, que significa a inserção de uma seção polifônica (várias vozes) dentro de um cantochão, prolongando uma nota, permitindo a voz mais aguda cantar contra ela frases de comprimento variável. Este estilo marcou o início da polifonia.
Já no século XIII, os músicos do convento Saint Martial de Limoges, na França, estudam como dar movimento rítmico às vozes.


             Voltando um pouco na música profana, aquele feita fora dos monastérios...


            Como já mencionado, a igreja exercia forte influencia sobre todos na Idade Média, a música que acontecia paralela aos conventos e mosteiros era rotulada de profana, ou seja, aquela que era pública ou doméstica. Condenada pela igreja, essa música falava da vida cotidiana, uma forma de entretenimento, levando-se em consideração todo o momento histórico da época - pestes, invasões e epidemias -. Porém, a grande preocupação da igreja era manter o povo sem desviar da fé cristã, para isso a música profana era condenada como ruim e perigosa à moral pública. No entanto, com  a queda dos carolíngios no século X, surge uma nova cultura, a música erudita começa a suceder às tradições musicais antigas.


           O século XIV é marcado por crises e mutações. Com a guerra dos Cem Anos (1337-1453), a França se vê enfraquecida e sua população sofre a perda de território, o que, por consequência, gera problemas demográficos, brigas de classes e disputa por comida.
Após a introdução da polifonia no século XIII, inicia-se uma nova etapa na história da música, no século XIV, o que a História chama de Ars Nova. Este termo surge com Philippe de Vitry que escreve um tratado no início de 1320. Desenvolvida na França, a Ars Nova aponta várias mudanças que marcam o fim da Idade Média, abrindo espaço à valorização do homem e da natureza, um prenúncio do Renascimento.
A Ars Nova traz mudanças quanto a notação musical, levando em consideração todo esse contexto vivido, a música vai passando por grandes transformações com a emancipação do ritmo; o desenvolvimento da notação musical possibilitou uma maior diversidade e complexidade rítmica.


                                          Exemplo de divisão rítmica.

            Toda esta mudança gerou um afastamento do sagrado, um questionamento quanto às concepções teológicas da igreja, possibilitando um fortalecimento dos reinos e o surgimento da sociedade burguesa. A música, assim como outras artes, já não estava mais a serviço da igreja, passando a ser patrocinada por grupos de classes prósperas da sociedade. Aproveitando-se desse contexto, compositores desta época buscavam o virtuosismo e novos efeitos rítmicos, como o staccato, isoritmia e a diminuição do valor das notas.


Guillaume de Machaut foi o principal compositor francês da Ars Nova. Nascido no norte do país e foi instruído na igreja vindo a se tornar sacerdote. Acompanhou o rei em diversas campanhas militares até a morte do mesmo, depois disso passou a servir a corte francesa. Suas obras têm uma grande riqueza rítmica que deixou influências para os compositores posteriores e além de ter obtido fama por suas composições musicais, Machaut ficou também conhecido por belos poemas.






Kyrie da missa de Notre Dame, Machaut.

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